sábado, 29 de junho de 2013

Meu Pequeno Tesouro







Pela manhã estava cuidando do meu jardim e entre uma e outra flor e algumas sementes, passei sem sentir até chegar ao meio do dia. Cavando um pouco aqui, semeando um tiquinho de flor e  folhagens... E meio por descuido afundei demais a pá com a qual cavava .Xi...Pensei logo, fiz besteira e ‘peguei’ um cano ou sei lá o que, mas  deve ser algo que não podia.Então com cuidado, fui afundando mais a mais a pá,até sentir o objeto encontrado.Sua forma , não se parecia com  a de um cano ou coisa assim.Tomei coragem e fui  cavando a volta daquilo que não imaginava  o que fosse.Quando consegui retira-la do chão , mal pude acreditar.levantei e fui  rapidamente para a cozinha e coloquei –a sobre a mesa. Depois de lavar bem as mãos, sentei-me e fiquei olhando para aquela caixinha antiga, tão antiga que não lembrava mais de tudo o que estava dentro dela. Mas lembrei que era um tesouro perdido ou escondido.

Aos poucos as lembranças foram chegando e voltei no tempo, aos meus dezessete anos, as vésperas por fazer dezoito. Fui lembrando também de tudo o que estava ali, antes mesmo de abri-la. Eram lembranças já tão dolorosas que me fizeram querer oculta-las, talvez de todos, do mundo, mas principalmente da menina de então. Vagarosamente fui levando as mãos até o fecho da caixinha. Ali estavam algumas cartas que nunca tive a coragem de mandar. Entre elas a minha declaração de amor a um colega de escola. Algumas miniaturas que não me traziam boas recordações nas disputas que fizera cm meu irmão de forma não tão leal, que certamente me fez desistir de desfrutar de sua contemplação na estante do meu quarto. Algumas fotos que sempre detestei Um anel de latão encontrado no chão da escola e ao fundo uma folha de jornal forrando a caixa.

Na verdade a um olhar mais atento percebi que não era somente uma folha de jornal que forrava o fundo da caixa, mas uma notícia. Lembrei-me logo que li o título da manchete. Falava de uma moça em seus dezessete anos que se tornara uma escritora de sucesso precocemente. E foi nesse instante que a lembrança daquele grandioso sonho veio tão claramente como o sol que sai de trás das nuvens e brilha em toda a sua formosura. Vieram as lembranças de antigos poemas e contos escritos por mim havia muito tempo. Vieram recordações amargas de frustrações e de momentos em que rasgava tudo e queimava. Lembrei de toda a insegurança juvenil por ter me inscrito em alguns concursos de poesia e contos e do que invariavelmente acontecia depois: chorava, chorava e chorava, sem mesmo querer saber dos resultados. Lembrei tristemente do pouco caso e crédito que então me dava. E da inércia que acometia todo o meu ser.

Depois de passar toda a tarde contemplando este tesouro de recordações tristes, eu me pus a fazer um balanço de minhas ações. Tentei entender um pouco o medo que tinha apesar da enorme vontade de me tornar uma escritora, uma poetiza... Nada, nem mesmo a alegria de tantas vitórias em concursos, me fazia acreditar que era possível. E então eu deixei que lágrimas quentes molhassem meu rosto e tive a ilusão que pudessem traduzir para meu interior aquilo que eu não lembrava mais porque sentira um dia. E pensei na possibilidade de que tivessem sido lágrimas iguais a essas que houvessem traduzido os sonhos e vida em palavras escritas que hoje me faziam viajar o mundo para inspirar e incentivar novos escritores e plantar sonhos e faze-los acreditar neles. Afinal, as lágrimas me acompanharam durante tantos anos de minha vida... Mas nem me lembrava mais quando cessaram.

Depois de fechar novamente a caixa descobri que guardar sonhos sob o chão não apagam nossos desejos, mas simplesmente os detém por um tempo. Quando enterrei tudo aquilo, uma parte por querer esquecer e esconder e outra por temer não conseguir fazer acontecer; lembrei acreditar que aquela fase de sonhos passaria. Mas não passou, disse a mim mesma com um sorriso nos lábios. E foi aos poucos, fora e dentro de mim que o sonho ganhou ousadias de se concretizar. O medo deu lugar ao ímpeto. O descrédito em meu talento deu passagem livre para uma crítica bem elabora e construtiva em tudo o que escrevia e fazia. E dia a dia foi moldando algo que sempre esteve lá... Hoje, sonhos concretizados. Feliz pela caminhada, pelo aprendizado, posso olhar para trás e aceitar aquilo que não consegui fazer acontecer porque sei que  andei, apressei o passo e até corri para fazer  acontecer tudo o que me trouxe até aqui,com muitos sonhos e planos realizados.Eu me fiz feliz.

Maura Nelle




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Maura Nelle