sábado, 25 de maio de 2013

Morubi





Conheci o Morubi durante o ano e meio de meu trajeto na mesma linha de ônibus que  usávamos para ir ao trabalho. Ele era um jovem que encantava todas as senhoras idosas que   viajavam  no mesmo horário em que ele, Morubi. Encantava as senhoras e irritava as mais novas que por acharem ele de fina estampa e bonitão, jogavam certo charme sobre ele. Disso provinha a insatisfação das moças, ele o tal, nascido Antônio de Bizac, não lhes dava a mínima. Ao passo que era só galanteios e gentilezas para as senhoras acima dos notados cinquenta anos.
Somente depois de quase um ano, descobri a tática daquele moço: ele conseguia a atenção geral daqueles passageiros e sendo assim, estava acima de suspeitas para os pequenos golpes que pretendia com as senhoras. Quando chegávamos à fila, no ponto final, lá estava ele, guardando lugar para aquelas mais idosas e debilitadas. Noutra hora vinha ele com um copinho de café quentinho, em um daqueles dias frios em que ninguém gosta de sair de casa. Sempre de um modo ou de outro, Morubi, a quem não foi dado a ninguém descobrir o porquê do apelido, vinha com gracinhas e atenções para as damas da terceira idade ou mesmo às senhoras douradas, como costumava referenciá-las.
Um dia, nem de sol e menos ainda de chuva, vem o Romão todo entristecido, lamentoso mesmo da vida... Sua tia Euvirinha, a quem todos conheciam,havia sido sequestrada. Logo um coro a lhe perguntar, preocupado, o que queriam como resgate. Informou de imediato que a tia já estava em casa em segurança. Mas de coração partido. E contou-nos tudo o que havia para ser dito. Depois de tudo colocado, vieram as reflexões, os comentários e o choque ante as boas intenções do Morubi. Fora ele, sim, isso mesmo, fora aquele moleque, aquele filho sem mãe que raptou a Euvirinha, figura carinhosa e estimada por todos que a conheciam. É vida que segue...
Um mês depois Euvirinha aparece para se despedir. Estava se aposentando do cargo de diretora da escola onde trabalhou por 18 anos entre as vezes  ser a vice e as vezes, diretora. Muitos de nós fomos ao ‘bota fora’ da Euvirinha. Teve muito churrasquinho de gato e muita latinha se cerveja bem gelada. Ganhou muitos presentes, pagou a rodada final para todos e deixou uma lembrancinha carinhosa, um lencinho bordado com as iniciais: E & M. Que ninguém lembrou de perguntar , tal era o efeito  da gelada.
Findo aquilo tudo, cada qual para seu canto. Dia seguinte, encontramos o Romão, que não estava nos comes e bebes. Arrasado, olho roxo e mão enfaixada. Contou-nos entre lágrimas de ódio e de espanto que a tia, viúva fazia exatos 20 anos no mesmo dia da festinha de despedida, havia  se casado  naquela mesma manhã, com o Morubi.Segundo ela, “um menino de ouro  que só havia feito aquilo  porque  estava desesperado  por dever a agiotas”enfim, passou a conversa na velha que não  quis prestar queixa e ainda casou com  ele,entendendo que ele tinha um gosto especial por mulheres mais velhas.Ele,de olho claro, na aposentadoria da Euvirinha,nada falou que era  amasiado com Carlotinha , quinze anos mais nova que ele e  paixão de sua vida , aquela mulata  sambista da quadra da Mangueira. Por quem já havia quase morrido e matado, só de pensar naquelas pernas grossas se exibindo pra qualquer um. Mas isso é outra história. Fiquemos por hora com a felicidade da Euvirinha.

Maura Nelle




Um comentário:

  1. Fiquemos com a felicidade da pobre da Euvirinha!

    Dizem que a felicidade é relativa... mas ora pois pois, faça-me o favor.

    Bem que uma grande amiga tratou de logo logo ensinar-me:

    Só é enganado quem quer!!

    ou

    Como diria minha vó, sábia senhora aquela:

    Santo quando vê esmola demais, desconfia hehe


    Um abraço e parabéns pelo bem humorado conto hihi

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Paz e Bem!
Maura Nelle