sábado, 20 de julho de 2013

Longe do Coração - Parte III - Final


Em nosso plano  para juntar nossos pais  ,não estávamos levando em conta  os motivos  deles para continuarem separados, somente  resolvemos por nossa própria conta querer ficar juntas para sempre, em uma mesma casa , como uma só família.Aos quinze anos de vida só  entendíamos e acreditávamos que seria maravilhoso ter uma família completa novamente .Porém não sabíamos que apesar de se amarem ,não conseguiam conviver com suas diferenças, seus hábitos e características pessoais. Eram em tudo muito distintos um do outro e mesmo tendo convivido  algum tempo juntos, não significava que não brigassem ou mesmo  implicassem muito  um com o outro o tempo todo.
Nos primeiros  10 dias em que  estava na casa de minha mãe, aos poucos fui me acostumando com a escuridão permanente, apesar da icrível  iluminação, porque saímos  para muitos lugares exatamente para que eu pudesse me  habituar  aos dias  sendo noites.Foi até mesmo divertido para mim  que passei a  querer  ir a lugares que  eram realmente escuros, as 10 horas da manhã.Isso depois de vencer  a diferença de fuso do Brasil para Noruega.E em pouquíssimos dias ninguém diria que eu era uma menina dos trópicos, acostumada ao sol e calor.Me sentia muito confortável naquelas roupas tão necessárias  que aqueciam não só ao corpo , mas a  alma também.Meu estado de espírito era assim, feliz e confortável ,mesmo em uma temperatura abaixo de zero.
Papai, apesar de se mostrar entusiasmado com a ideia de  ir me encontrar e estar junto com todas nós, não pode ir.Os negócios não poderiam ficar sem ele durante tanto tempo e seu melhor assistente estava em férias em algum  outro estado  brasileiro.Mamãe apesar de um tanto decepcionada, não se mostrou contrariada e escreveu uma carta para  seu ex- marido lamentando que não pudesse  ir, mas dizendo entender  seu comprometimento com o trabalho. ( O  que depois ficamos sabendo, minha irmã e eu, que este exato comprometimento profissional foi uma das principais causas de brigas entre eles ). Frustrada mesmo ficamos nós, que apesar  de estar passando dias incríveis, já lamentávamos  a nossa futura separação.Quando recebemos a carta de papai, soubemos que nossa intenção  não iria realizar-se.A partir  desse momento, entendemos que teria que haver outro jeito para ficarmos juntas,mesmo que nossos pais continuassem separados.
Em nossas conversas ficávamos horas  conjecturando, e pensando possibilidades de fazer com que eles se encontrassem.E  como papai não iria vir  para ficar uns dias e levar-me com ele novamente, estávamos  arquitetando algo que fizesse mamãe ir ao Brasil para levar-me de volta .Mas essas nossas conversas não impediam que aproveitássemos tudo ao que tinhamos doireito. E quando finalmente  em meados de fevereiro  o sol apontou no horizonte, foi deslubrante para mim. Depois  daquelas férias  nunca mais veria o sol como antes.Era maravilhoso apreciar o nascer e o por do sol, na certeza que  no dia seguinte , lá estaria ele magestoso e  lindo a nos aquecer a vida novamente.
Com o passar dos dias fomos entendendo que nada daquilo que  esperávamos e planejamos  tinha dado certo. As férias estavam  se encaminhando para o fim. Aqueles dias  mágicos não estavam sequer  acordados para acontecerem  em alguma outra oportunidade futura. Estávamos felizes  e gratas a Deus por tudo isso que aconteceu em nossas vidas. Nosso reencontro foi algo  sem precedentes e  foi tudo  perfeito.Estávamos  mais ligadas uma a outra do que sempre estivemos, mas já nos sentínhamos tão longe do coração uma da outra...No ultimo fim de semana que passaríamos juntas , mamãe  anunciou um piquenique  no pé das montanhas.Ela havia convidado alguns amigos antigos e entre eles  algumas pessoas que eu já podia também chamar de amigos.Jovens  como nós mesmas e outros  que eram mais velhos, alguns do trabalho de minha mãe , outros eram parentes distantes ,sobrinhos netos de minha avó materna.
Ficamos muito felizes  com a perspectiva desse encontro familair e de amigos também.Na véspera ficamos até tarde preparando  coisas gostosas para levarmos.Fizemos muitas das coisas que aprendemos com papai  e por isso lembramos dele o tempo todo. Dormimos muito pouco aquela noite,mas acordamos muito animadas.Iríamos em seis carros e pretendíamos  passar o dia todo  entre o mar e a montanha.Uma bela localização, que nessa época  do ano estava  com muitas excursões de turismo.Ao desenabrcarmos mamãe foi logo na frente escolher um bom lugar  para ficarmos, enquanto nós tentávamos ajudávar a retirar  as cestas de lanches  dos veículos.
Nossa supresa foi única quando avistamos nosso pai estendendo uma manta  com mamãe. Nesse momento eles nos viram  e  vieram nos abraçar. Foi uma grande surpresa, algo com que não contávamos mais.Soubemos depois que a carta que minha mãe escreveu dizendo compreender as razões de papai  para não ir ter conosco, surtiu um efeito incrível e mesmo contrariando toda a lógica dele , foi para Oslo se reunir  com sua família.Foi um dia maravilhoso em que  nossos pais não se  separaram em nem um momento. Minha mãe já sabia que ele iria a esse pequinique , mas nada nos disse  fazer uma surpresa.O que era para ser somente um fim de semana, durou uma semana inteira.Foi durante este passeio que eles começaram a namorar. E por isso nas férias do meio do ano, todos nós tornamos a nos encontrar no Brasil. Minha mãe que  nascida em Oslo, foi criada no Brasil,matou as saudades  e nessa oportunidade, nossos pais  resolveram  tentar novamente estarem juntos como um casal. Mas não naquele momento  ou naquele ano.Ela ainda voltaria  a Noruega , para seu trabalho  por mais três anos, quando então se aposentaria e finalmente poderia  estar de vez com papai no Brasil.Naqueles três anos nos encontrávamos em todas as férias e ao completarmos dezoito anos, assistimos felizes o novo casamento de nossos pais, que foram passar a lua de mel  no Japão, muito longe de nós, mas perto do nosso coração.Estávamos plenas de felicidade.Foi um dos melhores momentos de nossa vida.Passaríamos a morar juntas e dormiríamos também no mesmo quarto, para o início de dias e noites maravilhosas que reforçariam nossa amizade e amor para o restante  de nossas vidas.Éramos mais uma vez uma família.

 





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Maura Nelle