sábado, 13 de julho de 2013

Longe do Coração parte II







No dia de nossa despedida levantamos muito cedo, como a não querer perder nem mesmo um minuto do tempo que ainda tínhamos. Fomos para a cozinha preparar o café da manhã para o nosso chef particular. Fizemos um monte de comilanças que mais tarde receberam muitos elogios, o que nos deixou imensamente prosas...Quando nos sentamos a mesa, agradecemos a Deus aqueles dias passados juntos, foram dias muito felizes e  então tínhamos em nós a esperança de um novo encontro. Lembro-me que o dia passou muito rápido. Queríamos que fosse um dia eterno, mas a noite, cansada e feliz, soube que seria a nossa ultima noite juntas ali em casa. Não dormimos, ficamos conversando a noite toda, evocando lembranças muito antigas da época que nossos pais ainda viviam juntos. Tínhamos então pouco menos de três anos, e nossas lembranças eram pouquíssimas.

De volta a nossa casa, após levarmos Geórgia ao aeroporto, soube que além do vazio haveria a saudade. Mas, sobretudo, restava a esperança que  se  afigurou como o melhor sentimento do mundo,porque ele me aquecia a alma ao apontar para o momento do encontro com minha mãe.Em todos os meses que se seguiram até minhas férias  não houve uma semana sequer que entre mim e minha irmã não fosse trocada uma carta ou cartão.sempre dizíamos uma a outra palavras de encorajamento sobre  a saudade e a falta que  fazíamos uma a outra.Nesse meio tempo, recebi a carta mais bonita de minha vida onde minha mãe pela primeira vez  falava do porque  abriu mão  de mim em favor de meu pai.Nessa carta, ela dizia que o amava muito  e que por isso não conseguiu  dizer não ao pedido dele para ter para si  e criar,  uma  ao menos de suas filhas.Minha mãe sentia que ao aceitar isso, haveria uma esperança sobre a volta deles.Ainda hoje, ela disse , que o amava e que talvez sempre fosse assim em seu coração.Ler esta carta tão franca, havia me deixado muito feliz e pude finalmente após tantos anos,perdoar aqueles que  mais amava no  mundo e que no entanto, eram os que mais me haviam feito sofrer.Somente aqueles que entram tão profundamente em nosso coração podem nos ferir e magoar tanto.

 Oslo a capital da Noruega disponibiliza um dos espetáculos mais intrigantes do planeta. Em Janeiro, há dias feitos somente de noites de inverno onde o sol nunca sobe ao horizonte e podemos ver a Aurora boreal. E meu pai que me explicou tudo sobre o clima e  fenômenos desse país desde a mais remota idade,estava mais eufórico que eu com a possibilidade que eu teria de ver pessoalmente.  Minha ida ficou acertada para a segunda metade do mês de janeiro, porque minha irmã queria muito que eu conhecesse a capital quando o os dias tornassem a aparecer, o que ocorre em meados de fevereiro, e então pudéssemos passear sob o sol do inverno, vendo todas as belezas naturais que nos fosse possível ver.Geórgia preveniu-me em relação as roupas de inverno que  deveria levar, mas nada  na realidade me preparou para enfrentar uma temperatura de 20º abaixo de zero.Portanto ao chegar lá, me lembro que tanto Geórgia quanto minha mãe  riram  das roupas que eu julgava que fossem  me proteger de  tanto frio. Minha sorte foi vestir  roupas do tamanho  das que  minha irmã usava.

Quando cheguei a capital da Noruega não espera encontrar um lugar tão moderno. Foi desenvolvida uma adequada estrutura de iluminação para os dias sem sol do inverno e tudo era tão claro e confortável que só fui perceber mesmo que não haviam dias quando  já descansada  da viagem, saímos , nós três para um passeio.Foi quando me dei conta que ainda não tinha mesmo visto a luz do sol.O  que a princípio foi um tanto inquietante, mas como ainda em minha estada haveria também dias  ensolarados, resolvi aproveitar aquela incrível diversidade climática.Lembro-me que ao  ver minha irmã no aeroporto, procurei automaticamente  a mulher que estaria junto a ela. Ah, minha mãe não fazia jus às fotos, era muito mais bonita pessoalmente e que sorriso franco, alegre e espontâneo. Ela  não esperou que eu fosse a elas, veio   encontrar-se comigo ainda  no meio de uma  pequena multidão que desembarcava. Abraçou-me e beijou muito, tanto e novamente... Ficamos lá por um tempo inominável. Foi muito forte o que sentimos. Eu a amei mais ainda. Foi somente depois de um tempo que sentimos outras mãos nos envolvendo, era Geórgia. Rimos as três e felizes fomos para casa, para a casa que ao menos durante uns dias, seria minha também.

Minha mãe era professora de matemática e ensinava na maior e mais antiga universidade de Oslo. E minha irmã esperava seguir os passos dela, assim como eu sempre quis ser um dia,chef como meu pai.Nem mesmo  para ir ao trabalho, mamãe quis se separar de nós. Conheci seus alunos e todas as instalações da universidade. Almoçávamos juntas, dormíamos no mesmo quarto. Mamãe levou um sofá cama para o enorme quarto de Geórgia e  dormiu na cama dela enquanto nós dormimos juntas no sofá cama,tão enorme quanto macio.Por isso ficávamos até tarde  conversando, tagarelando e rindo muito...descobri que  cozinha não era o forte de minha mãe, mas em compensação, era uma maravilhosa companhia , engraçada, e muito espirituosa.Nessa época entendemos  a máxima da  ciência em que  diz: os opostos se atraem.Nossos país eram as pessoas mais diferentes que haviam para  conviverem casados.Mas havia dado certo por cinco anos.Por isso, minha irmã e eu começamos a pensar em alguma estratégia que pudesse nos dar esperança de uma possível reconciliação entre os dois. Porque mesmo depois de doze anos nenhum deles havia se interessado em uma nova união, mesmo sendo tão jovens e bonitos. A partir de então, começamos a falar muito sobre papai com nossa mãe, de como ele era bonito e inteligente e charmoso e tal... E acima de tudo, como sempre falava dela com imenso carinho. Aos poucos foi surtindo algum efeito e ela, mesmo sem notar começou a fazer algumas perguntas sobre o dia a dia de papai, sobre como ele era comigo, como era nas pequenas coisas no dia a dia. E enquanto isso, ao mandarmos cartas para papai, não deixamos de dizer em nenhuma delas então enviadas, o quanto ele estava fazendo falta entre nós e como todos, (todas nós) gostaríamos que ele estivesse conosco. E como um desafio, perguntamos a ele se não poderia dispor de alguns dias e vir encontrar-se conosco. Para mamãe dissemos que papai disse que adoraria estar conosco, mas que tinha medo de tirar a liberdade dela em nossa companhia. Então a  desafiamos em convida-lo a vir, Para todos juntos fazermos um passeio no campo, no primeiro dia de sol.


( continua )

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu Comentário.
Paz e Bem!
Maura Nelle