Pela manhã estava cuidando do meu
jardim e entre uma e outra flor e algumas sementes, passei sem sentir até
chegar ao meio do dia. Cavando um pouco aqui, semeando um tiquinho de flor
e folhagens... E meio por descuido
afundei demais a pá com a qual cavava .Xi...Pensei logo, fiz besteira e
‘peguei’ um cano ou sei lá o que, mas
deve ser algo que não podia.Então com cuidado, fui afundando mais a mais
a pá,até sentir o objeto encontrado.Sua forma , não se parecia com a de um cano ou coisa assim.Tomei coragem e
fui cavando a volta daquilo que não
imaginava o que fosse.Quando consegui
retira-la do chão , mal pude acreditar.levantei e fui rapidamente para a cozinha e coloquei –a
sobre a mesa. Depois de lavar bem as mãos, sentei-me e fiquei olhando para
aquela caixinha antiga, tão antiga que não lembrava mais de tudo o que estava
dentro dela. Mas lembrei que era um tesouro perdido ou escondido.
Aos poucos as lembranças foram
chegando e voltei no tempo, aos meus dezessete anos, as vésperas por fazer dezoito.
Fui lembrando também de tudo o que estava ali, antes mesmo de abri-la. Eram
lembranças já tão dolorosas que me fizeram querer oculta-las, talvez de todos,
do mundo, mas principalmente da menina de então. Vagarosamente fui levando as
mãos até o fecho da caixinha. Ali estavam algumas cartas que nunca tive a
coragem de mandar. Entre elas a minha declaração de amor a um colega de escola.
Algumas miniaturas que não me traziam boas recordações nas disputas que fizera
cm meu irmão de forma não tão leal, que certamente me fez desistir de desfrutar
de sua contemplação na estante do meu quarto. Algumas fotos que sempre detestei
Um anel de latão encontrado no chão da escola e ao fundo uma folha de jornal
forrando a caixa.
Na verdade a um olhar mais atento
percebi que não era somente uma folha de jornal que forrava o fundo da caixa,
mas uma notícia. Lembrei-me logo que li o título da manchete. Falava de uma
moça em seus dezessete anos que se tornara uma escritora de sucesso precocemente.
E foi nesse instante que a lembrança daquele grandioso sonho veio tão
claramente como o sol que sai de trás das nuvens e brilha em toda a sua
formosura. Vieram as lembranças de antigos poemas e contos escritos por mim
havia muito tempo. Vieram recordações amargas de frustrações e de momentos em
que rasgava tudo e queimava. Lembrei de toda a insegurança juvenil por ter me
inscrito em alguns concursos de poesia e contos e do que invariavelmente
acontecia depois: chorava, chorava e chorava, sem mesmo querer saber dos
resultados. Lembrei tristemente do pouco caso e crédito que então me dava. E da
inércia que acometia todo o meu ser.
Depois de passar toda a tarde contemplando
este tesouro de recordações tristes, eu me pus a fazer um balanço de minhas ações.
Tentei entender um pouco o medo que tinha apesar da enorme vontade de me tornar
uma escritora, uma poetiza... Nada, nem mesmo a alegria de tantas vitórias em
concursos, me fazia acreditar que era possível. E então eu deixei que lágrimas
quentes molhassem meu rosto e tive a ilusão que pudessem traduzir para meu
interior aquilo que eu não lembrava mais porque sentira um dia. E pensei na
possibilidade de que tivessem sido lágrimas iguais a essas que houvessem
traduzido os sonhos e vida em palavras escritas que hoje me faziam viajar o
mundo para inspirar e incentivar novos escritores e plantar sonhos e faze-los
acreditar neles. Afinal, as lágrimas me acompanharam durante tantos anos de
minha vida... Mas nem me lembrava mais quando cessaram.
Depois de fechar novamente a
caixa descobri que guardar sonhos sob o chão não apagam nossos desejos, mas
simplesmente os detém por um tempo. Quando enterrei tudo aquilo, uma parte por
querer esquecer e esconder e outra por temer não conseguir fazer acontecer;
lembrei acreditar que aquela fase de sonhos passaria. Mas não passou, disse a
mim mesma com um sorriso nos lábios. E foi aos poucos, fora e dentro de mim que
o sonho ganhou ousadias de se concretizar. O medo deu lugar ao ímpeto. O
descrédito em meu talento deu passagem livre para uma crítica bem elabora e construtiva
em tudo o que escrevia e fazia. E dia a dia foi moldando algo que sempre esteve
lá... Hoje, sonhos concretizados. Feliz pela caminhada, pelo aprendizado, posso
olhar para trás e aceitar aquilo que não consegui fazer acontecer porque sei
que andei, apressei o passo e até corri
para fazer acontecer tudo o que me
trouxe até aqui,com muitos sonhos e planos realizados.Eu me fiz feliz.
Maura Nelle
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Maura Nelle