Conheci o Morubi durante o ano e
meio de meu trajeto na mesma linha de ônibus que usávamos para ir ao trabalho.
Ele era um jovem que encantava todas as senhoras idosas que viajavam
no mesmo horário em que ele, Morubi. Encantava as senhoras e irritava as mais
novas que por acharem ele de fina estampa e bonitão, jogavam certo charme sobre
ele. Disso provinha a insatisfação das moças, ele o tal, nascido Antônio de
Bizac, não lhes dava a mínima. Ao passo que era só galanteios e gentilezas para
as senhoras acima dos notados cinquenta anos.
Somente depois de quase um ano,
descobri a tática daquele moço: ele conseguia a atenção geral daqueles
passageiros e sendo assim, estava acima de suspeitas para os pequenos golpes que
pretendia com as senhoras. Quando chegávamos à fila, no ponto final, lá estava
ele, guardando lugar para aquelas mais idosas e debilitadas. Noutra hora vinha
ele com um copinho de café quentinho, em um daqueles dias frios em que ninguém
gosta de sair de casa. Sempre de um modo ou de outro, Morubi, a quem não foi
dado a ninguém descobrir o porquê do apelido, vinha com gracinhas e atenções
para as damas da terceira idade ou mesmo às senhoras douradas, como costumava
referenciá-las.
Um dia, nem de sol e menos ainda
de chuva, vem o Romão todo entristecido, lamentoso mesmo da vida... Sua tia
Euvirinha, a quem todos conheciam,havia sido sequestrada. Logo um coro a lhe
perguntar, preocupado, o que queriam como resgate. Informou de imediato que a
tia já estava em casa em segurança. Mas de coração partido. E contou-nos tudo o
que havia para ser dito. Depois de tudo colocado, vieram as reflexões, os
comentários e o choque ante as boas intenções do Morubi. Fora ele, sim, isso
mesmo, fora aquele moleque, aquele filho sem mãe que raptou a Euvirinha, figura
carinhosa e estimada por todos que a conheciam. É vida que segue...
Um mês depois Euvirinha aparece
para se despedir. Estava se aposentando do cargo de diretora da escola onde
trabalhou por 18 anos entre as vezes ser a vice e as vezes, diretora.
Muitos de nós fomos ao ‘bota fora’ da Euvirinha. Teve muito churrasquinho de
gato e muita latinha se cerveja bem gelada. Ganhou muitos presentes, pagou a
rodada final para todos e deixou uma lembrancinha carinhosa, um lencinho bordado
com as iniciais: E & M. Que ninguém lembrou de perguntar , tal era o
efeito da gelada.
Findo aquilo tudo, cada qual
para seu canto. Dia seguinte, encontramos o Romão, que não estava nos comes e
bebes. Arrasado, olho roxo e mão enfaixada. Contou-nos entre lágrimas de ódio e
de espanto que a tia, viúva fazia exatos 20 anos no mesmo dia da festinha de
despedida, havia se casado naquela mesma manhã, com o
Morubi.Segundo ela, “um menino de ouro que só havia feito aquilo
porque estava desesperado por dever a agiotas”enfim, passou a
conversa na velha que não quis prestar queixa e ainda casou com
ele,entendendo que ele tinha um gosto especial por mulheres mais velhas.Ele,de
olho claro, na aposentadoria da Euvirinha,nada falou que era amasiado com Carlotinha , quinze anos mais nova que ele e paixão de sua vida , aquela
mulata sambista da quadra da Mangueira. Por quem já havia quase morrido e
matado, só de pensar naquelas pernas grossas se exibindo pra qualquer um. Mas
isso é outra história. Fiquemos por hora com a felicidade da Euvirinha.
Maura Nelle
Maura Nelle
Fiquemos com a felicidade da pobre da Euvirinha!
ResponderExcluirDizem que a felicidade é relativa... mas ora pois pois, faça-me o favor.
Bem que uma grande amiga tratou de logo logo ensinar-me:
Só é enganado quem quer!!
ou
Como diria minha vó, sábia senhora aquela:
Santo quando vê esmola demais, desconfia hehe
Um abraço e parabéns pelo bem humorado conto hihi